Artigos
A linguagem faz o cérebro. Mente semiologal em cérebro neuronal
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume 15, número 2, páginas 149-169, 2022.
O artigo procura avançar argumentos teóricos para interpor “razões semiologais” da linguagem humana na construção e concepção do mundo, perante “explicações causais” dessa construção pela legião de neurônios do cérebro humano, provenientes das neurociências. Principia com reflexões sobre o conceito de “semiocepção” e implicações que pode gerar, no ambiente atual das interfaces da semiótica com a filosofia fenomenológica, perante o conceito de “percepção”, implicações que vêm induzindo a uma viragem fenomenológica da teoria semiótica em grande parte da reflexão de alguns pesquisadores. Em seguida, levanta inevitáveis confrontações que o conceito de semiocepção está destinado a ter com as neurociências, para as quais o cérebro neuronal detém o comando geral da concepção do mundo pelo homem – ao que chamo “neurocepção” – o que se traduz atualmente em forte pressão biológica, naturalista, materialista ou neurocientista, que o campo semiótico recebe, e se vê solicitado a discutir, de vez que tais proposições neurobiológicas da mente humana tangenciam de perto a emergência e a natureza do sentido (humano), tema crucial que vem desafiando a teoria semiótica desde suas origens.
Un modelo catenario y tensivo para la estructura del cuadrado semiótico: salir de Aristóteles
Tópicos del Seminario, Claude Zilberberg: la semiótica tensiva
Número 46, páginas 101-117, julio-diciembre 2021.
Posto que o gradual vem primeiro, o categórico é obtido suspendendo os termos catenários e conservando os termos extremos, diz Zilberberg (1981, p. 10). A catenária é a figura geométrica que designa a forma curva assumida por um cabo suspenso pelas suas extremidades e submetido ao seu próprio peso. Essa figura será explorada aqui com o objetivo de inaugurar duas teorias: a) sobreposta ao grafo tensivo [∟] proposto por Zilberberg, requer um segundo grafo, espelhado, invertido, duplicando assim o gradiente de tensividade para acomodar os dois polos categóricos S1 e S2 do quadrado semiótico, que, dessa forma, “se tensivisa”; b) o diagrama catenário autoriza um modelo tensivo de articulação semiótica da linguagem fora da lógica aristotélica do quadrado semiótico, possibilitando sua superação, ou seja, permitindo à semiótica “sair de Aristóteles”.
A paixão do entusiasmo, em Diana Luz Pessoa de Barros. Elucubrações semio-patafísicas
Revista Entrepalavras
Volume 10, páginas 102-112, 2020.
Este texto de homenagem à nossa sempre mestra e guia teórica, Diana Luz Pessoa de Barros, pretende indicar breves pistas de estudos semióticos sobre a paixão do entusiasmo, tomando por inspiração a fina análise modal que Greimas fizera sobre a paixão da cólera, nos anos 1980, mas, desta feita, advertida quanto aos movimentos tensivos da semiótica de Zilberberg. A ideia foi mostrar que o estilo de pesquisa e de atitude teórico-acadêmica de Diana está balizado numa verdadeira paixão de entusiasmo, intenso, perante as ações de si própria e perante as ações do outro. Num segundo movimento do texto, a homenagem utiliza expedientes da ciência patafísica de Alfred Jarry para tecer certas elucubrações sobre onomástica, aplicada às quatro grandezas que definem o nome da homenageada: Diana, Luz, Pessoa, Barros.
La nature du sens : Neuroception, perception ou sémioception ?
Semiotica - Journal of the International Association for Semiotic Studies / Revue de l'Association Internationale de Sémiotique
Volume 2020, Issue 234, 2020.
A teoria semiótica desenvolveu-se como uma teoria da produção do sentido e sua manifestação em várias práticas humanas. Ultimamente, tem sido solicitada a dar conta da emergência do sentido, de sua natureza. Para a filosofia de Merleau-Ponty, esse ponto de origem é dado na percepção, como o primeiro terreno onde o sentido brota. A percepção detém a primazia da construção do mundo significante para o homem. Nas ciências naturais, a neurociência aponta para o cérebro, especificamente o equipamento neuronal que temos como humanos, como a sede da criação do sentido. Nosso conhecimento do mundo viria de uma "neurocepção", neologismo inevitável para dar-lhe uma semelhança familiar com a da "percepção". Diante dessas duas posições teóricas, podemos em semiótica e linguística oferecer e defender a hipótese de que nosso conhecimento do mundo é peremptoriamente gerado nas malhas das linguagens. Uma operação de "semiocepção", baseada no ato semiológico arbitrário das linguagens, controla a própria percepção humana, com antecedência. Não é o cérebro que “faz a mente”, mas sim a linguagem que “faz o cérebro humano”.
Psicanálise e semiótica: situação em 2020
Estudos Semióticos (USP)
Volume 16, Número 1, 2020.
Descrevo neste texto como se apresenta atualmente, a meu ver, a situação de interface entre a psicanálise de S. Freud e de J. Lacan e a semiótica europeia de A. J. Greimas. Centro a atenção em como a interface teve inícios, nos anos 1960, em decorrência da abertura da psicanálise, por Lacan, para o campo estruturalista da linguística de F. de Saussure, nos anos 1950. Registro alguns tópicos desenvolvidos na interface: (i) a questão do conceito de significante, por Lacan, com o intento de mais bem ajustá-lo frente ao sentido, significado, significação, efeitos de sentido; (ii) a questão do conceito de pulsão, na tentativa de melhor arranjo dos seus desdobramentos em patologias e nas paixões humanas, a desenhar um percurso gerativo da subjetividade inconsciente; (iii) o conceito freudiano de transferência, enfatizado por Lacan como sujeito-suposto-saber, e minha leitura dele, para ampliação de suas incidências, com o recurso da teoria semiótica das modalizações sintáxicas do discurso. A finalidade geral do texto não é outra senão evitar que a interface esmoreça, pois que imperativa, quando o que está em jogo é o desafio do melhor conhecimento possível sobre os difíceis meandros por onde flui a subjetividade humana.
Bases freudianas para uma abordagem discursiva do afeto
Tiago Ravanello, Waldir Beividas & Flávia Milanez
Psicologia em Revista
Volume 24, Número 3, Páginas 705-725, 2018.
Artigo em coautoria no qual nos dedicamos a interceptar mais diretamente a relação entre afeto e linguagem nas bases do campo freudiano. Buscamos delinear características inerentes à consideração destes e sua mútua implicação e elencar pontos de apoio para a questão da discursivização do afeto em Freud. No entanto, nosso objetivo principal não é a delimitação de uma abordagem freudiana do afeto, mas, destacar bases que apontem à pertinência da retomada do conceito de afeto no interior de uma discussão rigorosa sobre a linguagem, e apresentar brevemente alguns obstáculos que poderiam impossibilitar o diálogo entre a psicanálise e as teorias da linguagem. Para tanto, fazemos um breve trajeto para delimitar duas possíveis maneiras de abordagem para o conceito de afeto, a quantitativa e a metafórica, a partir do estudo de obras freudianas e seus críticos.
Sémiotique et psychanalyse : L’univers thymique comme enjeu
Langages - Le dialogue entre la sémiotique structurale et les sciences
Volume 213, Páginas 55-65, 2019.
Este texto se dirige ao campo da semiótica de Greimas e da psicanálise de Freud e Lacan. O objetivo do texto é, por um lado, mostrar as dificuldades de um diálogo e de uma busca de interface entre esses dois domínios de sentido e do psiquismo humano e, por outro lado, indicar algumas sugestões teóricas e táticas para superá-los. A partir do momento em que Lacan elaborou a célebre tese segundo a qual o inconsciente está "estruturado como uma linguagem" - o que indicava, segundo ele, o verdadeiro sentido de um "retorno a Freud" -, esta tese construiu uma ponte heurística e legítima para estudos comuns entre o campo da linguagem e o do inconsciente, entre as paixões (o coração da semiótica dos afetos) e as pulsões (o coração da psicanálise do inconsciente).
Um modelo catenário e tensivo para a estrutura do quadrado semiótico
Estudos Semióticos (USP) - Edição Especial em Homenagem a Claude Zilberberg
Volume 15, Páginas 39-53, 2019.
Este artigo visa explorar uma sugestão de Zilberberg, quando, numa reflexão en passant, propunha que “o categórico pressupõe o gradual que o funda” e que “o categórico é obtido pela suspensão dos termos catenários e conservação dos termos extremos” (1981, p. 10). Catenária – do latim catena [cadeia] – é definida em dicionário como uma curva na qual pende, sob a influência de seu próprio peso, um fio suspenso pelas extremidades. Essa figura geométrica permite “espelhar” o gradiente de tensividade – figura de um L, eixo intensivo na vertical e eixo extensivo na horizontal – acoplado a seu espelho, um L invertido (⅃), um segundo eixo intensivo e extensivo. O primeiro L responderia pela “tonicidade” (na verticalidade intensiva) e sua “degradação” (na horizontalidade extensiva) do termo primeiro (S1); o L invertido (⅃) responderia pela tonicidade e degradação do termo segundo (S2). Em suma, duplica-se o gradiente tensivo para acolher os dois termos categoriais do quadrado semiótico que, assim, se “tensivisa”.
Para uma concepção discursiva dos afetos: Lacan e a semiótica tensiva
Tiago Ravanello, Waldir Beividas & Christian Ingo Lenz Dunker
Psicologia: Ciência e Profissão - Publicação do Conselho Federal de Psicologia
Volume 38, Número 1, Páginas 172-185, 2018.
Escrito em coautoria, esse artigo busca apresentar como determinadas teses gerais de Lacan sobre a linguagem podem também nos fornecer e corroborar elementos para uma abordagem discursiva do afeto como alternativa aos projetos de sua redução biológica. O procedimento realizado foi operar um diálogo entre a teoria lacaniana do significante e a semiótica tensiva para, a partir dos conceitos psicanalíticos de sujeito e Outro, e os semióticos de intensidade e extensidade, delimitar diretrizes para reposicionar o afeto, em sentido restrito, e o ponto de vista econômico, em sentido amplo. Como resultado, defende uma releitura no campo lacaniano do conceito de afeto enquanto engajamento, na qual o significante atua em termos de uma semiose que instaura formas de relação entre corpo, sujeito e linguagem sem necessidade de lançar mão de referentes biológicos.
Potencialidades da narrativa greimasiana
Luiz Tatit & Waldir Beividas
Estudos Semióticos (USP) - Edição Especial em Homenagem ao Centenário de A. J. Greimas - parte II
Volume 14, Número 1, Páginas 45-54, 2018.
Epicentro das reflexões da semiótica de Algirdas Julien Greimas, desde sua origem, a narratividade é investigada aqui em três direções propositivas: (i) compreender a tensividade implícita no modelo narrativo greimasiano, a partir das propostas heurísticas de Claude Zilberberg; (ii) incorporar à narratividade – concebida como antropologia do imaginário humano – o regime tímico-pulsional, defendido por Jean Petitot; (iii) sugerir a entrada da semiótica no debate sobre as “grandes narrativas da antropogênese” – narrativas científico evolucionistas sobre a espécie humana, narrativas humanistas da “exceção humana”, narrativas fenomenológicas da “diferença antropológica” – para instruir tal debate com a proposta de uma narrativa semiótica que ponha em evidência a presença e a ação da linguagem na antropogênese.
Une narratologie sémiotique de l’anthropogenèse
Dilbilim Dergisi - Journal of Linguistics
Volume 1, Páginas 57-67, 2018.
Para enfatizar a força teórica do modelo narrativo da semiótica de Greimas, em homenagem aos cinquenta anos de sua Sémantique Structurale (1966), este texto apresenta breves reflexões sobre duas de suas potencialidades ainda pouco exploradas pelos semióticos, seus seguidores. É o status de "antropologia do imaginário humano", imaginário como "carne" e não como "cognição" (Petitot), a ser explorado em dois aspectos: (i) o aspecto "pulsional" para o regime "tímico" da narratividade; (ii) o aspecto de uma "narrativa semiótica" entrando no horizonte da antropologia, no amplo debate sobre as grandes narrativas da antropogênese.
La Sémiotique de Greimas: une épistémologie (discursive) immanente
Semiotica - Journal of the International Association for Semiotic Studies / Revue de l'Association Internationale de Sémiotique
Volume 2017, Issue 219, Páginas 55-74, 2017.
O conceito de imanência ocupa hoje um lugar central e, ao mesmo tempo, desconfortável entre os semióticos. Alguns criticam abertamente, outros sentem que o conceito cumpriu seu papel como regulador metodológico de descrições e seu escopo que deve ser ampliado de modo a integrar contexto, práticas, interações, enfim, a experiência humana. Este trabalho apresenta imanência através de outra luz. De acordo com o Prolegômenos de Hjelmslev, depois de ter suspendido dados transcendentes em nome da imanência metodológica - como "o preço que tinha que ser pago para extrair da própria linguagem seu segredo" - "imanência e transcendência são unidas em uma unidade superior na base da imanência." Do nível metodológico, avançamos para o nível epistemológico do conhecimento, cuja tese principal condensa seu alcance: a linguagem é a forma pela qual concebemos o mundo. Greimas também possui formulações piercing nesse sentido. Abraça a metodologia imanente e apresenta sua semiótica como epistemologia imanente do conhecimento. Nesse sentido, ele propõe que a ciência em sua totalidade é uma linguagem única, onde as ciências naturais operam no plano da expressão e as humanidades operam no plano do conteúdo dessa macrolinguagem.
Potencialidades de la narrativa greimasiana
Waldir Beividas & Luiz Tatit
Topicos del Seminario
Volume 37, Páginas 49-72, 2017.
Em honra do espírito científico de Greimas, que concebia a teoria semiótica como um processo em constante construção graças à inerente atividade meta-semiótica que a anima, este volume reúne reflexões atuais de semiotistas latino-americanos sobre o princípio da narratividade. Para examinar em todo seu alcance o valor heurístico deste princípio, se realiza um percurso desde suas origens histórico-epistemológicos, passando pelo grande desenvolvimento do qual gozou e pelo qual teve lugar a projeção da semiótica como uma possível metodologia para as ciências sociais, até a semiótica contemporânea, que é chamada a consolidar a sua própria identidade disciplinar e a dar respostas às diferentes formas que o significado adquiriu nos últimos tempos.
Uma via indireta para a abordagem do afeto: libido, gozo, pulsão escópica
Tiago Ravanello, Christian Ingo Lenz Dunker & Waldir Beividas
Tempo Psicanalítico
Volume 49.1, Páginas 9-36, 2017.
O artigo visa o exame de determinadas passagens da obra lacaniana nas quais, mesmo que por vias indiretas, venha a ser possível derivar pontos de auxílio para a questão de uma abordagem discursiva do afeto. Nesse sentido, interessa-nos delimitar a abertura feita para a pregnância da linguagem por sobre os domínios da vertente quantitativa, até então incontestes, na determinação de elementos ligados à metapsicologia freudiana. Assim, defendemos que a dimensão na qual o econômico é tratado na teoria lacaniana, uma vez que lhe é retirado o substrato energético, é diretamente submetida à linguagem e seu vínculo com o campo do Outro e, dessa forma, a partir do seminário 11, destacar uma abordagem de cunho não energético da pulsão. Em suma, nossa intenção é reafirmar que o deslocamento operado por Lacan da ordem de análise de uma suposta base natural para as estruturas de linguagem resultou tanto na produção de boa parte de seus conceitos principais, como também na constituição de um novo projeto epistemológico no campo psicanalítico. Tal abordagem da teoria e clínica psicanalítica implica, portanto, numa dimensão para além do saber, e que está na base de sua abordagem do sujeito e de sua economia.
Zoosémiotique et anthroposémiotique: une rupture abyssale
Nuovi Quaderni del Circolo Semiologico Siciliano
Número 1, Páginas 237-246, 2017.
Semiotizar o animal – contá-lo, dizê-lo, representá-lo, pensá-lo, torná-lo objeto de ciência e de conhecimento – é gerir uma política do limiar inseguro: aquele que o separa, mais ou menos obstinadamente, do homem. Garantindo agora uma autonomia supostamente natural, portanto aparentemente livre de implicações ético-políticas. Sofrendo agora as contínuas incursões, em múltiplos níveis e com diferentes intensidades, do homem-animal.
A semiótica, ciência dos sistemas e processos de significação, não escapa a este quiasma, que já desde as suas primeiras estratégias de investigação incluiu entre os seus objetivos fundacionais a questão das linguagens das diferentes espécies animais. Foi a zoossemiótica que, por força das circunstâncias, se viu abraçando um paradigma de investigação cientificista e naturalista, garantindo que as línguas dos humanos fossem distinguidas das dos não-humanos.
Pesquisas recentes no campo da antropologia da natureza e da sociologia da ciência permitem-nos repensar a questão zoosemiótica de uma forma diferente. Em vez de lidar com uma suposta linguagem natural dos animais não humanos, apostando na sua consciência reflexiva, poderia ser mais propício, para uma semiótica como estudo das formas de significado humano e social, trabalhar o seu discurso, portanto, o interações eficazes e altamente comunicativas e científicas, bem como práticas e funcionais, entre humanos e não humanos. Que, voluntária ou involuntariamente, constituem-se mutuamente, revendo constantemente aquele limiar inseguro que, separando-os, mantém-nos unidos.
A semiologia de Saussure como epistemologia do conhecimento
Revista de Estudos da Linguagem UFMG
Volume 24.1, Páginas 35-64, 2016.
Este texto apresenta argumentos para demonstrar a hipótese ampla de que o princípio de arbitrariedade do signo linguístico de Ferdinand de Saussure, tomado em sua radicalidade, e a proposição da Semiologia, disciplina a examinar em todas as suas consequências a presença e inserção do signo na vida humana, deixam entrever uma singular epistemologia discursiva. Os objetivos imediatos deste artigo procuram obter os primeiros resultados parciais: a demonstração da radicalidade do princípio saussuriano perante leituras que a minimizaram, senão tentaram neutralizá-la e a demonstração de que o ato semiológico dele derivado é mais que ato comunicativo de linguagem. É coerção inelutável da nossa apreensão e percepção do mundo. A metodologia seguida no raciocínio é inspirada nas reflexões epistemológicas do matemático R. Thom: a da estimulação da intuição na busca de novas simetrias implícitas escondidas nos fenômenos e ainda não conceptualizadas no campo geral da disciplina a que se submete. No presente caso, trata-se da busca da nova potencialidade epistemológica da ciência semiológica de Saussure.
La sémioception et le pulsionnel en sémiotique. Pour l’homogénéisation de l’univers thymique
Actes sémiotiques
Volume 119, Páginas 1-17, 2016.
La sémiotique se réclame depuis ses origines greimassiennes d’une vocation scientifique et collective. Le prix à payer, c’est la persistance dans la vigilance, c’est de se tenir, disaient les auteurs de Sémiotique des passions, en permanence aux aguets de ses propres lacunes et défaillances afin de les combler, de les rectifier, de repérer les « boîtes noires » que toute théorie laisse derrière elle, une fois choisi un chemin face aux effets « étranges et retentissants » du sens, pour reprendre une expression de Greimas dans De l’Imperfection1 . Voilà donc la vertu majeure : savoir rester toujours en construction. Or cette construction, et le progrès qu’on peut en espérer, ne sont pas affaire de simple application des modèles déjà proposés mais un travail de pensée. Dès lors devient inéluctable l’implication du sujet de la recherche, avec ses convictions, son degré de compréhension et ses difficultés, ses insuffisances, ses hésitations. En somme, c’est toute son épistémè de formation déjà acquise qui se voit impliquée, entre fascination et déception. Lui aussi est un sujet « inquiet », tout autant que celui que la théorie cherche à décrire.
A semiótica tensiva: uma teoria imanente do afeto
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume 13, Número 1, Páginas 43-86, 2015.
Este texto avança reflexões que buscam defender a hipótese de uma epistemologia do conhecimento humano, no-meada epistemologia discursiva. De estatuto imanente à lingua-gem, vem sendo preparada para rivalizar com a epistemologia das ciências naturais, via de regra realista, e com a epistemolo-gia das filosofias, mormente transcendental. O texto é o quarto de um concerto de ideias, cujos três primeiros movimentos fo-ram publicados, ou estão em vias de publicação, todos a pro-curar fundamentar tal epistemologia. Nascida da proposição do princípio do arbitrário e da Semiologia dele derivada, por F. Saussure, primeiro movimento, foi balizada pelo princípio da imanência da teoria da linguagem de L. Hjelmslev, segundo mo-vimento, e edificada pelas proposições de A. J. Greimas em sua teoria semiótica, terceiro movimento. Seu progresso e eficácia heurística podem ser atestados na teoria da semiótica tensiva de Cl. Zilberberg, justamente porque avança um conhecimento sobre a região que mais desafia a imanência: a região do afeto, da sensibilidade. Geralmente tida por indócil à formalização, à estrutura, tal região é suposta como transcendente a uma gramática imanente do afeto. A semiótica tensiva de Zilberberg, integralmente subordinada à tradição linguística e ao princípio da imanência hjelmsleviana e greimasiana, ilustra a governan-ça dessa epistemologia discursiva.
A teoria da linguagem de Hjelmslev: uma epistemologia imanente do conhecimento
Estudos Semióticos (USP)
Volume 11, Páginas 1-10, 2015.
Em continuidade ao pensamento de Saussure, Louis Hjelmslev nos legou elementos sólidos para estabelecer uma teoria com metodologia descritiva da língua natural, de cunho integralmente imanente, teoria e metodologia aprumadas para serem constantemente produzidas e conduzidas a partir do interior da própria língua – tal como pleiteava ele, ao modo de uma linguística linguística – que não deixasse invadir suas descrições com argumentos, critérios, conceitos e pontos de vista oriundos de regiões transcendentes à língua, seja no seu plano da expressão, por critérios físico-acústicos, fisiológicos e congêneres, seja no seu plano do conteúdo, por conceitos psicológicos, sociológicos ou filosóficos, dentre outros. Suas formulações sobre uma linguística sui generis, imanente, operada com uma metodologia também imanente, nos legaram algo não muito bem notado, pouco enfatizado, ou ao menos não levado às últimas consequências, pela literatura linguística e semiótica até hoje, e até onde pude acompanhá-la. Este texto examina algumas das teses peremptórias de L. Hjelmslev sobre a linguagem como a forma básica pela qual concebemos o mundo à escala da fenomenologia humana. Pretende arguir que, em formulações hjelmslevianas sobre a imanência e sobre a língua natural, desenha-se uma verdadeira epistemologia do conhecimento, também imanente. Mais que isso, essa epistemologia ultrapassa o campo restrito das linguísticas e de sua própria metodologia imanente, defendida sobretudo nos Prolegômenos. Ela se direciona para o amplo campo das ciências, arrisco-me a dizer, das ciências humanas e também das ciências naturais. Tal epistemologia veio, no meu entendimento, anunciada com o gesto saussuriano da proposição do princípio do arbitrário do signo, do pacto semiológico que ele instaura e do contínuo ato semiológico que dele deriva como modo de presença e vida dos signos na vida social.
A imanência semiótica: percepção ou semiocepção?
MÉTODO: Estudos Internacionais em Fenomenologia e Filosofia
Volume 3.1, Páginas 165-184, 2015.
Este texto propõe defender o conceito de imanência de L. Hjelmslev. Indico uma encruzilhada epistemológica onde se encontra a teoria semiótica europeia, exigindo-lhe uma escolha clara: (i) ela deve permanecer em sua tradição linguística na ordem imanente da linguagem, ou (ii) ela eventualmente abraçará a filosofia fenomenológica, ou (iii) ela se inclinará para a pesquisa naturalista e materialista que caracteriza a ciência neurocognitivista. Defendo a hipótese de que ela deve permanecer em seu campo de imanência da linguagem, especialmente porque Saussure inaugura uma verdadeira epistemologia discursiva que pode e deve competir com a reflexão transcendental da filosofia fenomenológica, bem como com a epistemologia científica das ciências exatas. A origem dessa epistemologia discursiva é a Semiologia de Saussure, o que me leva a propor o conceito de sémiocepção. Apresento-o como rival e concorrente do conceito de “percepção” predominante na teoria de Merleau-Ponty e do conceito de enação de Varela que alimenta as reflexões cognitivas.
Una epistemología discursiva en construcción: la teoría semiótica inmanente entre la percepción y la semiocepción
Tópicos del Seminario
Volume 31, Páginas 139-159, 2014.
Atualmente, a teoria semiótica volta seu olhar para as interações do cotidiano, onde o sentido aparece instável e fugaz, sob a coerção da apreensão do sujeito e das imposições sensoriais de seu corpo. O conceito de percepção ganha lugar privilegiado nas reflexões semióticas. O recurso a este conceito de filosofia fenomenológica deve ser pensado criticamente, pois permite que uma “substância” (transcendental) entre pela porta de baixo na casa semiótica, construída epistemologicamente sob o conceito de forma imanente.
O objetivo deste trabalho é apresentar o conceito de semiocepção, criado a partir do princípio semiológico da arbitrariedade do signo linguístico, conceito que rivaliza com o de percepção. Num horizonte mais amplo, vemos a possibilidade de uma epistemologia discursiva com estatuto imanente, que deve ser responsável pela gestão da reflexão semiótica.
Sur l'épistémologie du résumé : pas de philosophie sans linguistique
Janus - Quaderni del circolo glossematico
Volume 1, Páginas 163-175, 2013.
O meu propósito nesta vertente será de realçar os indícios e o alcance desta epistemologia no pensamento de Hjelmslev, em particular em torno da gigantesca construção categórica do Resumo. Parto da comunicação no IV Congresso Internacional de Linguistas (1936), intitulada «Ensaio de uma teoria dos morfemas», publicada em 1938 e publicada nos Ensaios Linguísticos (1971: 161-173). Chegamos à última página deste texto pela surpreendente mudança do nível de reflexão. Com efeito, mesmo que em Razão e poética do sentido (1988: 72) Cl. Zilberberg considera este artigo do mestre dinamarquês como uma apresentação breve e «acessível € - embora as aspas em torno «acessível» certamente marcam, com um toque de ironia, um efeito concessivo - do que será o Resumo e do que teria sido a obra maior, com Uldall, An Outline of Glossematics, este texto poderoso distingue-se pelo grau de refinamento de uma tecnicidade eminentemente linguística das categorias e funções encenadas.
O lugar do sincretismo nas semióticas multicódicas
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume 10, Número 2, Páginas 1-12, 2012.
O autor apresenta breve revisão crítica do conceito de sincretismo em dois vetores. No primeiro, retoma as formulações que mais se difundiram no campo, a partir das propostas de A. J. Greimas e J. Courtés, no primeiro grande dicionário da teoria (1979), e de J. M. Floch no segundo (1986). No segundo, apresenta breve resumo de suas próprias hipóteses elaboradas em texto de dissertação de mestrado (1983) que permaneceu inédita. Tem a intenção de colocar lado a lado os dois vetores de sua revisão para a reflexão crítica dos interessados no tema. O autor considera que ainda hoje não se tem uma definição adequada desse conceito, nem do lugar preciso de sua ocorrência nas instâncias criadas em teoria, quando acionado para a descrição das linguagens multicódicas. A extensão do conceito de sincretismo, de seu campo de origem na linguística fonológica e morfossintática (como “neutralização”) para o vasto campo das linguagens complexas, embora já prenunciado nas proposições hjemslevianas, requer uma transposição de grande envergadura, ainda não contemplada pelos desenvolvimentos que o conceito já pôde obter. Endossa algumas tarefas urgentes, propostas por J. L. Fiorin (2009), para superar a carência e propor outras.
Entre paixão, pulsão e corpo: reflexões epistemológicas para o diálogo sobre os fenômenos afetivos
Tiago Ravanello & Waldir Beividas
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume 8, Número 2, Páginas 82-95, 2010.
Rumo à construção de um diálogo de interface entre a teoria semiótica e a psicanálise de linhagem freudiana e lacaniana, o texto apresenta reflexões prévias, de natureza epistemológica, com vistas a ajustar o campo dos fenômenos afetivos, em que disputam lugar as paixões, fartamente investigadas pela semiótica, as pulsões, vigorosamente defendidas pela psicanálise, os afetos, recentemente reavaliados como centrais por ambas as teorias, e o corpo, disputado por elas como também pelas neurociências e neurobiologias que ocupam massivamente o cenário atual das investigações sobre essa condição humana. Ressaltando liminarmente a resistência que alguns fenômenos oferecem à sua semiotização, mormente o caso das pulsões e do corpo, tal como postulados pela psicanálise e pelas neurociências atuais, o texto envereda na discussão sobre a disputa do pensamento de Freud que se nota entre interpretações mais biologizantes e leituras mais clínicas, psicológicas e linguageiras do médico vienense. O objetivo é legitimar a leitura linguageira, mais especificamente, semiótica, passível de oferecer ao campo psicanalítico uma autonomia perante as neurociências e, em decorrência, aprumar uma melhor compatibilização entre as conceituações semióticas e psicanalíticas dos fenômenos afetivos.
Narrativa e acontecimento no caso Isabela: algumas reflexões preliminares
Conrado Moreira Mendes & Waldir Beividas
Revista da ANPOLL
Volume 1, Número 29, Páginas 41-68, 2010.
O presente artigo analisa à luz dos conceitos de narrativa e de acontecimento, advindos da Semiótica Discursiva, a cobertura jornalística do Jornal Nacional a respeito do Caso Isabella, um dos episódios de maior repercussão dos últimos anos do jornalismo brasileiro. A análise se centra nas duas lógicas do discurso evidenciadas por Zilberberg (2006): a lógica implicativa e a lógica concessiva. No primeiro caso, as relações são de pressuposição, a partir do construto da teoria greimasiana da narrativa. No outro, os estudos sobre acontecimento reservam uma posição de destaque a eventos da ordem do não esperado, do fortuito. A análise salienta ainda a pertinência do conceito de acontecimento de longa duração (TATIT, 2009) ao corpus examinado.
Recalque, rejeição, denegação: modulações subjetivas do querer, do crer e do saber
Lina Schlachter & Waldir Beividas
Ágora. Estudos em Teoria Psicanalítica ( PPGTP/UFRJ)
Volume 13, Número 2, Páginas 207-227, 2010.
Retomam-se três conceitos freudianos - a Verdrängung, a Verwerfung e a Verleugnung -, discute-se as dificuldades de seu entendimento frente às traduções disponíveis em português, com base numa análise semântica dos originais em alemão. Em seguida, por meio de dispositivos de análise semiótica (o quadrado semiótico e as modalizações) comparam-se e confrontam-se as modulações do /SABER/, do /CRER/ e do /QUERER/ nos movimentos semântico-modais desses três mecanismos psíquicos formulados por Freud. O objetivo é propor subsídios teóricos (eventualmente extensíveis à clínica) capazes de distinguir, com base nas estruturas extraídas dessas modalidades, as posições subjetivas diferenciadas do paciente.
Argumentação e persuasão. Tensão entre crer e saber em “Famigerado” de Guimarães Rosa
Ivã Carlos Lopes & Waldir Beividas
Volume 53, Número 2, Páginas 443-455, 2009.
Diferentemente de outras teorias mais próximas da retórica, a semiótica da Escola de Paris nunca foi muito pródiga ao tratar dos problemas de persuasão e argumentação. A partir de uma constatação simples como essa, procuramos, neste artigo, pôr à prova certos dispositivos semióticos que têm suas consequências nesse domínio, a começar pela problemática modal do crer e do saber. Seus valores são examinados num tipo de situação específica, a saber, quando as personagens confrontadas se acham em circunstância de ameaça imediata a sua integridade física. Nesse sentido, discutimos três tópicos principais: (i) a interação dos valores modais do saber e do crer, componentes de um mesmo universo cognitivo; (ii) as modulações tensivas do medo e das paixões correlatas; (iii) as formas de raciocínio inferencial mobilizadas pelas personagens do relato, e notadamente as ilações abdutivas postas em cena. O texto escolhido para a verificação do alcance e dos limites de tais dispositivos semióticos é o conhecido conto de Guimarães Rosa, “Famigerado” (Primeiras estórias, obra originalmente publicada em 1962.
Linguagem como alternativa ao aspecto quantitativo em psicanálise
Tiago Ravanello & Waldir Beividas
Psicologia & Sociedade
Volume 21, Edição Especial, Páginas 82-88, 2009.
O presente artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla que visa explorar as consequências intrínsecas à hipótese do inconsciente estruturado como linguagem se levada à sua radicalidade. Para tanto, focamos a problemática que envolve os conceitos referentes à energética freudiana, especialmente o de afeto, e os eventuais riscos de apropriações por projetos de agregação da psicanálise às neurociências. Ou seja, ao invés de adentrarmos nos meandros do regime quantitativo presente desde a obra freudiana e decorrentes aproximações com temas neurocientíficos, buscamos percorrer a outra possibilidade de abordagem dos fenômenos clínicos e psicopatológicos igualmente latentes no método psicanalítico, a saber, a exploração da linguagem e do sentido.
Reflexões sobre o conceito de imanência em semiótica. Por uma epistemologia discursiva
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume 6, Número 2, Páginas 1-13, 2008.
O conceito de imanência ocupa lugar privilegiado na teoria semiótica de linhagem europeia. Lançado mais incisivamente por L. Hjelmslev, o linguista de Copenhague propôs como imanente uma « linguística-linguística », que elaborasse internamente seus conceitos, evitando aplicar-lhe razões e argumentos exteriores (da sociologia, fisiologia, psicologia, filosofia), atitude que considerava transcendente. A partir desse primeiro impulso, o conceito ganhou sobremaneira em extensão, sobretudo com Greimas, no nascimento e evolução da teoria semiótica. Este artigo percorre e examina mais de perto essa extensão, seus convenientes e inconvenientes, abrangências e limitações, com o fim de explorar uma outra via que ficou deficitária desde Hjelmslev, ou seja, a hipótese de uma imanência ‘superior’ a governar as duas atitudes acima, o que pode levar a uma discussão crítica com a filosofia transcendental: a razão (transcendental) rege a linguagem ou é a linguagem (imanente) que governa a razão, isto é, toda a forma possível de racionalidade humana?
Veridicção, persuasão, argumentação: notas numa perspectiva semiótica
Ivã Carlos Lopes & Waldir Beividas
Revista Todas as Letras J
Volume 9, Número 1, Páginas 32-41, 2007.
A partir de uma breve revisão do modo como a semiótica francesa tem tratado o amplo domínio do persuadir, com especial atenção à veridicção, confrontam-se as consequências de duas atitudes epistemológicas muito distintas: (i) uma epistemologia "realista" que prevaleceu, em graus variados, ao longo da tradição lógico-gramatical, e (ii) uma epistemologia "imanente" que vê a significação como construto humano e efeito de interações manipulatórias dos enunciadores, sendo essa, como se sabe, a posição adotada pela semiótica.
Identidade e identificação: entre semiótica e psicanálise
Tiago Ravanello & Waldir Beividas
Volume 50, Número 1, Páginas 129-144, 2006.
O texto investiga os conceitos de identidade e de identificação na interface da semiótica greimasiana e da psicanálise freudiana. Defende a interface com o argumento de que a semiótica não pode pretender fazer tabula rasa de conceptualizações por vezes fecundas que foram ou são trabalhadas em outros campos do saber. Basta tomá-las como problemáticas a serem semiotizadas, isto é, ajustadas à pertinência do seu método e enfoque. O texto compara sugestões sobre os conceitos, apresentadas no Dicionário de Semiótica(GREIMAS; COURTÉS, 1979), com proposições e reflexões posteriores (LANDOWSKI, 1992; ZILBERBERG, 1981). Explora em seguida formulações freudianas sobre identidade e identificação, para propor uma projeção conjunta dos dois num único “quadrado semiótico” que os integre. Propõe que a identidade seja definida como paixão-limite, pois, em sentido forte, é um impossível de se obter, nas relações passionais, e que a identificação seja definida como compaixão, no sentido de tentar (com-)partilhar o pathos (isto é, valores modais e tímicos) do outro. Nota, por fim, que, em semiótica e em psicanálise, tanto o principal mentor de uma (GREIMAS) quanto o criador da outra (FREUD) reconheceram a insuficiência deixada por ambas as teorias quanto aos conceitos em questão. O texto pretendeu apresentar algumas sugestões para tentar reverter a situação.
Pulsão, afeto e paixão: psicanálise e semiótica
Psicologia em Estudo
Volume 11, Número 2, Páginas 391-398, 2006.
Este artigo apresenta um estudo das premissas e hipóteses liminares, como também as dificuldades de uma pesquisa mais ampla a respeito, que se elabora na interface teórica entre a metapsicologia freudiana (pulsão e afeto) e a semiótica (das paixões). A proposta global é estabelecer uma teoria da paixão de cunho semiótico-psicanalítico, sob a égide do conceito de pulsão, e levar o conceito de paixão e pulsão a ganhar pertinência perante os demais conceitos psicanalíticos e semióticos respectivamente. A tarefa só pode obter legitimidade se as paixões puderem ser teorizadas e descritas como resultantes de conversões da pulsão (por recalcamento, denegação, sublimação, identificação…).
Pulsões e suas modulações
Tiago Ravanello & Waldir Beividas
Volume XV, Páginas 01-10, 2006.
Este trabalho representa uma intenção de oferecer bases teóricas para pesquisar as possibilidades de contribuições mútuas entre a Semiótica e a Psicanálise sobre o tema da paixão sob influência da concepção de pulsão de Freud. Desta forma, procuramos estabelecer impasses epistemológicos incluídos no esforço de abordagem do conceito de drive dentro das fronteiras da linguagem.
Sémiotique du discours onirique. Le rêve de Freud
Langage & Inconscient
Número 2, Páginas 09-29, 2006.
No singular tabuleiro psicanalítico, muitas vezes começa a parte sobre uma moda que já se tornou clássica: a abertura Freud. E a dos peões que Andar à frente, como para indicar o estilo dos seguintes movimentos, o jogador ele mesmo, criador do jogo, considerou-o como a principal via de acesso a «xeque-mate», ousamos dizê-lo, do indomável inconsciente: o sonho. Mas peão não é apenas o objeto, certamente privilegiado, do interesse freudiano. O sonho não se contenta em recear o cenário («a outra cena») onde o inconsciente se legítimo da maneira mais patente. Ele faz melhor: apresenta um vasto conjunto de estratégias de composição do próprio enredo, personagens e suas afirmações. Estas estratégias apresentam um movimento ou uma expressão truncada pela qual o inconsciente se expõe, às vezes até se constrói, latente e palpitante, como uma pulsação escondida, mas ainda insistente.
O imaginário humano: entre a semiótica e a psicanálise
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume III, Páginas 1-12, 2005.
Anseio formulado por Greimas desde seu livro primeiro Semântica estrutural (1966), para evitar que a semiótica se tornasse prática de igrejinha, o texto apresenta reflexões e propostas de uma estratégia de convivência interdisciplinar entre a teoria semiótica greimasiana e as demais disciplinas humanas, no caso específico, a psicanálise. Dentre as fases que um diálogo nessa direção pode tomar (de conflito, de comparabilidade e de homologações conceptuais) o texto ilustra, na fase de conflito, as diferentes concepções, frente à cientificidade e frente aos conceitos de inconsciente e de enunciação, entre semiótica e psicanálise lacaniana.
Psicanálise do sentido. Semiótica do inconsciente
Pulsional Revista de Psicanálise
Volume 184, Páginas 16-27, 2005.
Inconsciente e sentido são conceitos basilares, em psicanálise e em semiótica, respectivamente, mas tiveram trajetos de desventura similares. Entraram em tal tensão que pode levar ao risco de uma hipertensão maligna à saúde teórica e prática de ambas. O inconsciente foi considerado sem pertinência para as pesquisas semióticas e o conceito de sentido, de suma importância em Freud, tornou-se desdenhado no ensino lacaniano e hoje sofre completo descarte, em proposições que induzem a psicanálise e transmissão para uma exclusão do sentido, um regime chamado fora-sentido. O autor discorda dessa orientação (milleriana) e trabalha por um novo tipo de tensionamento entre os dois conceitos, em que a hipertensão de exclusão recíproca ceda o lugar para uma distensão mútua, uma convivência heurística deles, em ambas as disciplinas.
O lugar de uma teoria do discurso na psicanálise (ou: um recado de Lacan)
CASA: Cadernos de Semiótica Aplicada
Volume II, Páginas 1-6, 2004.
O inconsciente está estruturado como uma linguagem” é a hipótese central com que Lacan procurou atualizar a psicanálise freudiana à nova ordem conceptual introduzida nas ‘ciências humanas’ (Linguística, Antropologia, Filosofia) a partir da década de 1950. Esse ‘gesto linguístico’ de Lacan – que queremos justificar como um gesto semiótico mais amplo – teria o sentido de um recado: a continuidade de atualização da psicanálise frente às teorias semióticas que estendem a questão da significação e do sentido para além das fronteiras linguísticas.
O sonho de Freud: semiótica do discurso onírico
Revista Psicologia USP
Volume 15, Páginas 137-162, 2004.
O autor toma o texto da Interpretação dos Sonhos de Freud, mais precisamente, o próprio sonho maior aí analisado, da injeção em Irma, para defender a idéia de que o criador da psicanálise inaugurou com isso uma reflexão "semiótica" avant la lettre, sobre a espinhosa questão do sentido. Sustenta que, frente ao modo como Freud dispôs seu método de interpretação onírica, as análises lacanianas desse sonho merecem reparos, justamente porque careceram de uma discussão maior sobre a questão freudiana do acúmulo de significações do sonho, ressentiram-se de um diálogo, não havido no tempo, entre a psicanálise e as teorias que têm o sentido como objeto precípuo de investigação (teorias do discurso e semióticas). Entende que as razões desse déficit devam ser debitadas ao modo como a psicanálise lacaniana e pós-lacaniana conduziram o conceito de sentido, paulatinamente desdenhado e abandonado, senão mesmo abertamente excluído de suas cogitações atuais.
O lugar de uma teoria do discurso na psicanálise (ou: um recado de Lacan)
Waldir Beividas & Marcos Lopes
Pulsional Revista de Psicanálise
Volume 177, Páginas 28-42, 2004.
Os autores defendem o argumento de que a relação entre a psicanálise e a lingüística, tal como Lacan a deixou para a posteridade e como a literatura psicanalítica pós-lacaniana a maneja atualmente leva a entender que foi uma relação® mal começada ¼, jogando-se aqui com a ambigüidade da homofonia possível na expressão. Mau começo, no sentido de que as posições dissonantes de Lacan um diálogo apaixonado nos primeiros anos de seu ensino e um corte abrupto na seqüência é em geral lido, difundido e defendido como uma ruptura definitiva, uma demissão sem volta diante da disciplina vizinha. E, no entanto, apenas um começo os autores tentam desconstruir nos limites do texto a leitura demissionária para pleitear brevemente, com mais otimismo, que tudo pode ser revisto como o rascunho mal começado de um diálogo efetivo que pode recomeçar com novas bases, com base no novo quadro das teorias da linguagem atuais
Corpo, semiose, paixão e pulsão. Semiótica e metapsicologia
Perfiles Semióticos
Volume I, Páginas 43-61, 2003.
O texto tem dois momentos. Comenta o deslocamento que se operou desde a semiótica dos anos 70 e 80, que concebia o texto (enunciado) como ponto de partida e de ancoragem do sentido, para a semiótica dos anos 90 e da virada do século, que ancora-o no corpo-próprio e nas suas coerções extero-, intero- e proprioceptivas, como lugar das precondições do sentido, de suas primeiras oscilações e emergência significante. Discute as várias leituras sobre essas coerções « ceptivas » e precondições, enfim, sobre a semiose-em-ato, e propõe o conceito ou dispositivo de semiocepção, na forma de uma metamorfose ou « catástrofe » qualitativa, que marca a linha de partilha entre o que tem existência semiótica, faz sentido, pertinente, pois, ao campo descritivo da disciplina, e o que não atem, qualquer mundo a-significante, anterior à operação de semiocepção, fora da pertinência e da incidência do "olhar" semiótico. Em seguida, propõe entre a semiótica e a psicanálise a experiência interdisciplinar de comparabilidade entre os regimes das paixões, das pulsões e das patologias, procurando uma maneira desintegrá-los na forma de um percurso gerativo da subjetividade inconsciente, como participantes de um mesmo universo tímico global.
Psicanálise, linguística e semiótica: do sentido ao corpo
Psicanalítica: a revista da SPRJ
Volume III, Páginas 24-47, 2002.
O texto comenta brevemente a convivência entre a psicanálise de Lacan e a linguística de seu tempo, para encaminhar o entendimento do autor sobre as forças de pressão que operam hoje no horizonte das ciências com vistas ao conhecimento do corpo, da mente e, por extensão, do psiquismo e seu inconsciente. Pleiteia, no andamento da exposição, um novo exame sobre o estatuto da linguagem no horizonte dos estudos atuais dessas ciências, bem como, por decorrência, uma renovação dos pontos de vista da psicanálise, no limiar de seu segundo centenário, perante novas hipóteses sobre a linguagem e sua inscrição corporal.
Uma nova mente nos estudos em comunicação: a transformática
Lumina
V.3, N.2, P.53-67, jul./dez. 2000
Este breve artigo se propõe como um comentário sobre a recente publicação do livro “Psychopathia Sexualis”, de MD Magno, Editora da Universidade Federal de Santa Maria – RS, 2000, 454 pp. Nele quero privilegiar a atenção na proposta do autor sobre um novo tipo de abordagem, a sua Transformática, que considero mesmo uma nova postura para o campo da Comunicação, isto é, para as teorias várias que tentam dar conta do vasto universo que é o da inter-relação do homem com o homem, com a informação, com a máquina, com a natureza, com as tecnologias que se interpõem entre eles.
O excesso de transferência na pesquisa em psicanálise
Psicologia: Reflexão e Crítica
Volume 12, Número 3 p. 661-679, 1999.
Toda reflexão sobre a pesquisa em psicanálise se concentra em geral: (a) na mútua implicação que se espera aí entre a dimensão teórica e a clínica; (b) num debate entre a pesquisa psicanalítica e a pesquisa «científica», onde a psicanálise é levada a confrontar-se com a ciência cartesiana, experimental, positivista ou neo-positivista, e assim adiante… O presente estudo quer abordar uma região menos explorada nesse debate; quer demonstrar que a psicanálise freudiana, sobretudo com Lacan e após Lacan, acabou sendo levada a uma «submissão pânica» ao a priori da enunciação do fundador (Freud) ou do re-fundador (Lacan). A pesquisa ficou embaraçada numa teia excessivamente «transferencial», sob o regime de um dixit Lacan sobreposto a um dixit Freud. O autor defende uma saída para isso: conceber a pesquisa psicanalítica como uma conceituação estruturante do inconsciente com Lacan e Freud, e não sob Lacan e Freud.
Pesquisa e transferência em psicanálise. Lugar sem excessos
Psicologia: Reflexão e Crítica
Volume 12, Número 3, Páginas 789-796, 1999.
Mesmo se insuficiente e desajeitado nos seus inícios, todo debate só pode ser proveitoso quando, ao invés de repetir o consenso, provoca o contraditório. Não fosse isso, tudo teria parado nas cavernas de Platão: não teria havido Aristóteles, nem Descartes, nem Freud ! para saltar apenas com três nomes a história milenar de trabalho de pensamento no Ocidente. É no espírito contraditório que minha leitura responde ao texto-réplica de L. Elia. A interpretação que colhi é que, segundo o fundo geral da réplica, o primeiro texto de minha autoria ficaria, se não « desqualificado » na sua pretensão central, ao menos bem atenuado e limitado, no que se refere à pesquisa analítica. Isto, por quatro tipos de argumentos: (a) meu texto inicial, ao tratar da pesquisa em psicanálise, não mergulha a transferência imediatamente na experiência clínica, como "condição prévia", isto é, situa-se numa região outra, que não é o coração do que se trata na experiência clínica; (b) meu texto primeiro denuncia um excesso transferencial na pesquisa, sendo que, para a réplica, não se trata em psicanálise de uma quantificação da transferência, visto que a pesquisa só pode ser conduzida aí "sob transferência"; (c) meu texto de origem pleiteia uma vocação científica para a psicanálise, ao passo que, para o texto replicante, ela constitui um outro saber, fora do campo da ciência; (d) meu texto primeiro sugere a construção de uma nova linguagem conceitual para estruturar o campo psicanalítico (com Freud e com Lacan e não sob a submissão pânica aos seus dixit ), ao passo que, ao ver da réplica, a psicanálise só pode recriar ou re-inventar na medida em que disser sim aos significantes "já constituídos, elaborados e estabelecidos" de Freud e de Lacan. São os argumentos maiores que me cabe então retorquir.
O estilo em Lacan e a "estilística" pós-lacaniana
Revista de Psicologia & Psicanálise
Volume 6, Páginas 33-48, 1995.
Estilo e subjetividade
Revista de Psicologia & Psicanálise
Volume 5, Páginas 79-90, 1994.
The signifier in psychoanalysis and preterition of the signified
BACAB 2A. Série Working Papers
Volume 1, Páginas 3-53, 1994.
Semiótica e psicanálise - convergências
Revista da Regional Sul
Número 2, Volume 2, Páginas 67-76, 1987.
Semióticas sincréticas (O Cinema)
Significação (UTP)
Volume 6, Páginas 13-21, 1987.
Os conceitos semióticos de abdução e catálise e a escuta clínica na psicanálise
Cruzeiro Semiótico
Volume 4, Páginas 05-11, 1986.
"Diante de alguns fatos inexplicáveis, deves tentar imaginar muitas leis gerais, em que não vês ainda a conexão com os fatos de que estás te ocupando: e de repente, na conexão imprevista de um resultado, um caso e uma lei, esboça-se um raciocínio que te parece mais convincente do que os outros ... E assim faço eu agora. Alinho muitos elementos desconexos e imagino as hipóteses. Mas é preciso imaginar muitas delas, e numerosas delas são tão absurdas que me envergonharia de contá-las."
Umberto Eco O nome da rosa (extraído do Cap. Quarto dia. Vésperas. Onde ... Guilherme revela seu método de chegar a uma verdade provável através de uma série de erros seguros).
O sentido e a forma na estrutura do signo
Alfa - Revista de Linguística
Número 27, Páginas 09-22, 1983.
Com o objetivo de ressaltar a economia que o princípio da arbitrariedade do signo, formulado por Saussure, pode conferir às teorias da linguagem na sua tentativa de superar concepções metafísicas — sempre presentes, implícita ou explicitamente, quando se aceita a presença do real como referente do signo — e de adquirir um estatuto científico no seu procedimento descritivo, o autor propõe, a título de hipótese, uma reinterpretação da noção de sentido em Hjelmslev, que a seu ver consegue pôr em evidência a posição formal do signo saussuriano em relação ao seu referente (intra-semiótico).